Presa pelo cordão umbilical
Covardia era o que me dominava toda vez que pensava em encarar o que acontecia. Era doloroso pensar que aquela mulher tão forte, que continuou a viver mesmo depois da perda do filho preferido estava se entregando. Estava doente, se sentia inútil e acabara de perder a irmã mais próxima, sua grande companheira. Por uma ano disse que não sentia mais gosto pela vida, que não queria mais estar aqui, que suas tonturas não melhoravam.
A covardia era consequência de medos, um deles o de me deparar novamente com ocasiões que marcaram muito a minha infância, como minha bisavó e sua moradia. Era uma casa fria, escura, fechada, que cheirava urina, e ela, uma italianona da roça, mãe de 8 filhos e uma filha, com seus noventa e poucos anos, que estava sempre sozinha sentada no sofá, com um salame e uma faca na mão, a esperar a visita dos filhos, netos e bisnetos. Eu não gostava de estar ali, não havia alegria, nem jovialidade. Eu não entendia e ainda não entendo porque a gente sempre passava aos domingos pela manhã, porque meu avô era um dos únicos filhos a visitá-la, nem porque ela não participava dos almoços familiares.
Neste final de semana a coragem veio à tona, o medo passou. O encontro foi agradável e prazeroso. Ela e nem sua casa seriam como aquela que me amedrontava quando pequena, mas há uma distância entre nós. Mas fico feliz e aliviada por ver que ela voltou a viver, ainda um pouco doente, mas novamente com brilho nos olhos. E ele passou a sorrir, a falar e a sentir que sua companheira ainda não o abandonará.
Me sinto feliz, mas nostalgica. Os finais de semana familiares são como uma terapia full time, a prática de nossas conversas no consultório. Toda informação do passado é reprocessada para algo que me faz entender melhor meu jeito de ser e o de todos eles. Ainda bem que agora vejo melhor!
12.8.03
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