27.4.04

O Brasil cresceu visivelmente nos últimos 80 anos.
Cresceu mal, porém. Cresceu como um boi mantido, desde bezerro, dentro de uma jaula de ferro.
Nossa jaula são as estruturas sociais medíocres, inscritas nas leis, para compor um país da pobreza na província mais bela da terra.
Sendo assim, no Brasil do futuro, a maioria da gente nascerá e viverá nas ruas, em fome canina e ignorância figadal, enquanto a minoria rica, com medo dos pobres, se recolherá em confortáveis campos de concentração, cercados de arame farpado e eletrificado.
Entretanto, é tão fácil nos livrarmos dessas teias, e tão necessário, que dói em nós... a nossa conivência culposa.

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Nos últimos anos, pouco a pouco, no Brasil e no mundo, as ideologias políticas, os pendores revolucionários e os fervores religiosos tradicionais perderam o poder de atração sobre o povo.
Começaram, ao mesmo tempo, a difundir-se seitas e práticas místicas que, com o apelo a biorritmos, drogas, astrologia, dietas místicas e feitiçarias, orientam a vida de milhões de pessoas, devolvendo-lhes o equilíbrio emocional indispensável para enfrentar suas existências azarosas, mas desativando-as como protagonistas da história, como construtoras de seus próprios destinos.

Darcy Ribeiro, imortal!

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