7.3.03

NÃO PODIA, MAS TODO MUNDO PLANTOU
(Jornal da Globo)

Não pode mas todo mundo faz. É o caso do plantio de soja transgênica no Rio Grande do Sul. A safra irregular é estimada em 9 bilhões de reais. O governo federal manteve a proibição do uso de transgênicos no Brasil, mas deixou para a justiça a decisão sobre o que fazer com a soja bilionária. A reportagem é de Paulo Renato Soares.

A reunião no Palácio do Planalto foi a portas fechadas e durou pouco mais de duas horas. O governo decidiu que o cultivo de alimentos geneticamente modificados no Brasil vai permanecer proibido. E que cabe à justiça a decisão sobre o que fazer com a safra gaúcha, que começa a ser colhida nos próximos dias.

Os produtores gaúchos começaram a investir nas sementes transgênicas há seis anos. Hoje, estima-se que 70% da área plantada do estado seja de soja geneticamente modificada. Em algumas lavouras não existe mais soja convencional.

As primeiras sementes foram contrabandeadas da Argentina. Um produtor, da região norte do estado diz que optou pela soja transgência porque a lavoura tem um custo menor e é mais resistente às pragas.

"Comecei a comprar sementes transgências no comércio de Passo Fundo, cinco anos atrás. Foi multiplicando até chegar a 100% da lavoura", revela ele. Os produtores só passaram a admitir o plantio de soja transgênica depois que a Polícia Federal apreendeu amostras de sementes e indiciou quatro pessoas.

Mas nem todo mundo está de acordo com a caça aos trangênicos. Especialista da EMBRAPA não vê problemas na comercialização nem no consumo. "A maior parte da população já vem consumindo transgênico há vários anos. Sem danos ou problema nenhum. Até porque esses transgênicos não mudam em nada a qualidade do produto”, avalia João Carlos Hass, engenheiro agrônomo

Este professor de genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul discorda. Para ele, a pesquisa com transgêncios ainda não comprovou que não há riscos. "Ela não está suficientemente desenvolvida ainda, testada, para garantir a inoqüidade dos produtos ao meio-ambiente e ao homem”, aponta Flávio Lewgoy, prof. de genética.

Alguns países europeus e asiáticos proíbem o consumo de alimentos geneticamente modificados. Como dizem que o órgão do corpo humano que mais dói é o bolso, está aí uma questão que pode ser crucial para a discussão dos transgênicos.

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